terça-feira, 4 de setembro de 2012

FIGURAS DE LINGUAGEM


A importância em reconhecer figuras de linguagem está no fato de que tal conhecimento, além de auxiliar a compreender melhor os textos literários, deixa-nos mais sensíveis à beleza da linguagem e ao significado simbólico das palavras e dos textos. 
Definição: Figuras de linguagem são certos recursos não convencionais que o falante ou escritor cria para dar maior expressividade à sua mensagem.
METÁFORA 
É o emprego de uma palavra com o significado de outra em vista de uma relação de semelhanças entre ambas. É uma comparação subentendida. 
Exemplo: Minha boca é um tumulo
Essa rua é um verdadeiro deserto.
COMPARAÇÃO 
Consiste em atribuir características de um ser a outro, em virtude de uma determinada semelhança.
 Exemplo: O meu coração está igual a um céu cinzento
O carro dele é rápido como um avião.
PROSOPOPÉIA 
É uma figura de linguagem que atribui características humanas a seres inanimados. Também podemos chamá-la de PERSONIFICAÇÃO. 
Exemplo: O céu está mostrando sua face mais bela. 
O cão mostrou grande sisudez.
SINESTESIA 
Consiste na fusão de impressões sensoriais diferentes. 
Exemplo: Raquel tem um olhar frio, desesperador.
Aquela criança tem um olhar tão doce.
CATACRESE 
É uma metáfora desgastada, tão usual que já não percebemos. Assim, a catacrese é o emprego de uma palavra no sentido figurado por falta de um termo próprio. 
Exemplo: O menino quebrou o braço da cadeira. 
A manga da camisa rasgou.
METONÍMIA 
É a substituição de uma palavra por outra, quando existe uma relação lógica, uma proximidade de sentidos que permite essa troca. Ocorre metonímia quando empregamos:
- O autor pela obra. 
Exemplo: Li Jô Soares dezenas de vezes. (a obra de Jô Soares)
- O continente pelo conteúdo. 
Exemplo: O ginásio aplaudiu a seleção. (ginásio está substituindo os torcedores)
- A parte pelo todo. 
Exemplo: Vários brasileiros vivem sem teto, ao relento. (teto substitui casa)
- O efeito pela causa. 
Exemplo: Suou muito para conseguir a casa própria. (suor substitui o trabalho)
PERÍFRASE 
É a designação de um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou. 
Exemplo:
A Veneza Brasileira também é palco de grandes espetáculos. (Veneza Brasileira = Recife) 
A Cidade Maravilhosa está tomada pela violência. (Cidade Maravilhosa = Rio de Janeiro)
ANTÍTESE 
Consiste no uso de palavras de sentidos opostos. 
Exemplo: Nada com Deus é tudo.
Tudo sem Deus é nada.
EUFEMISMO 
Consiste em suavizar palavras ou expressões que são desagradáveis. 
Exemplo: Ele foi repousar no céu, junto ao Pai. (repousar no céu = morrer) 
Os homens públicos envergonham o povo. (homens públicos = políticos)
HIPÉRBOLE 
É um exagero intencional com a finalidade de tornar mais expressiva a ideia. 
Exemplo: Ela chorou rios de lágrimas. 
Muitas pessoas morriam de medo da perna cabeluda.
IRONIA 
Consiste na inversão dos sentidos, ou seja, afirmamos o contrário do que pensamos.
 Exemplo: Que alunos inteligentes, não sabem nem somar.  
Se você gritar mais alto, eu agradeço.
ONOMATOPÉIA  
Consiste na reprodução ou imitação do som ou voz natural dos seres. 
Exemplo: Com o au-au dos cachorros, os gatos desapareceram. 
Miau-miau. – Eram os gatos miando no telhado a noite toda.
ALITERAÇÃO 
Consiste na repetição de um determinado som consonantal no início ou interior das palavras. 
Exemplo: O rato roeu a roupa do rei de Roma.
ELIPSE 
Consiste na omissão de um termo que fica subentendido no contexto, identificado facilmente. 
Exemplo: Após a queda, nenhuma fratura.
ZEUGMA 
Consiste na omissão de um termo já empregado anteriormente. 
Exemplo: Ele come carne, eu verduras.
PLEONASMO 
Consiste na intensificação de um termo através da sua repetição, reforçando seu significado. 
Exemplo: Nós cantamos um canto glorioso.
POLISSÍNDETO  
É a repetição da conjunção entre as orações de um período ou entre os termos da oração. 
Exemplo: Chegamos de viagem e tomamos banho e saímos para dançar.
ASSÍNDETO 
Ocorre quando há a ausência da conjunção entre duas orações.
Exemplo: Chegamos de viagem, tomamos banho, depois saímos para dançar.
ANACOLUTO 
Consiste numa mudança repentina da construção sintática da frase. 
Exemplo: Ele, nada podia assustá-lo.
Nota: o anacoluto ocorre com frequência na linguagem falada, quando o falante interrompe a frase, abandonando o que havia dito para reconstruí-la novamente.
ANAFÓRA 
Consiste na repetição de uma palavra ou expressão para reforçar o sentido, contribuindo para uma maior expressividade.
Exemplo: 
Cada alma é uma escada para Deus,
Cada alma é um corredor-Universo para Deus,
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro noturno. (Fernando Pessoa)
SILEPSE 
Ocorre quando a concordância é realizada com a ideia e não sua forma gramatical. Existem três tipos de silepse: gênero, número e pessoa.
De gênero
Exemplo: 
Vossa excelência está preocupado com as notícias. (a palavra vossa excelência é feminina quanto à forma, mas nesse exemplo a concordância se deu com a pessoa a que se refere o pronome de tratamento e não com o sujeito). 
De número
Exemplo: A boiada ficou furiosa com o peão e derrubaram a cerca. (nesse caso a concordância se deu com a ideia de plural da palavra boiada). 
De pessoa  
Exemplo: As mulheres decidimos não votar em determinado partido até prestarem conta ao povo. (nesse tipo de silepse, o falante se inclui mentalmente entre os participantes de um sujeito em 3ª pessoa).

Vícios de linguagem

A gramática é um conjunto de regras que estabelece um determinado uso da língua, denominado norma culta ou língua padrão. Acontece que as normas estabelecidas pela gramática normativa nem sempre são obedecidas, em se tratando da linguagem escrita.  O ato de desviar-se da norma padrão no intuito de alcançar uma maior expressividade, refere-se às figuras de linguagem. Quando o desvio se dá pelo não conhecimento da norma culta, temos os chamados vícios de linguagem.

a)
Barbarismo: consiste em grafar ou pronunciar uma palavra em desacordo com a norma culta.
pesquiza (em vez de pesquisa)
prototipo (em vez de protótipo)

b)
Solecismo: consiste em desviar-se da norma culta na construção sintática.
Fazem dois meses que ele não aparece. (em vez de faz ; desvio na sintaxe de concordância)

c)
Ambiguidade : trata-se de construir a frase de um modo tal que ela apresente mais de um sentido.
O guarda deteve o suspeito em sua casa. (na casa de quem: do guarda ou do suspeito?)

d)
Cacófato: consiste no mau som produzido pela junção de palavras.
Paguei cinco mil reais por cada.

e)
Pleonasmo vicioso:  consiste na repetição desnecessária de uma ideia.
O pai ordenou que a menina entrasse para dentro imediatamente.
Observação: Quando o uso do pleonasmo se dá de modo enfático, este não é considerado vicioso.

f)
Eco: trata-se da repetição de palavras terminadas pelo mesmo som.
O menino repetente mente alegremente.
 

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

LITERATURA : ENTRE CONCEITOS E POESIA



Estilos literários
Estilo individual é a maneira peculiar com que cada escritor manipula a linguagem literária. Refere-se à capacidade de usar técnicas para obter um melhor resultado estético.
Estilo de época diz respeito a uma série de procedimentos estéticos que caracterizam determinado período histórico – porque foram usados repetitiva e constantemente, por uma ou mais geração de escritores.
Tomando por base os estilos de época, podemos fazer a seguinte periodização das literaturas portuguesa e brasileira:

Trovadorismo - Contexto histórico

1ª Época Medieval
Trovadorismo: corresponde à primeira fase da história de Portugal e está intimamente ligado à formação do país como reino independente.
O conjunto de suas manifestações literárias reúne os poemas feitos por trovadores para serem cantados em feiras, festas e castelos nos últimos séculos da Idade Média.

 Poesia trovadoresca: pode ser dividida em dois gêneros: lírico e satírico. O gênero lírico se subdivide em duas categorias (cantigas de amigo e cantigas de amor) e o satírico é caracterizado pelas cantigas de escárnio e cantigas de maldizer.

Dicas para o vestibular:  
 Cantigas de amor: o trovador assume um eu-lírico masculino e se dirige à mulher amada como uma figura idealizada e distante. Ele se coloca na posição de fiel vassalo, a serviço de sua senhora - a dama da corte -, fazendo desse amor um objeto de sonho, distante e impossível.
Cantigas de amigo: têm origem popular, eu-lírico feminino e marcas evidentes da literatura oral (reiterações, paralelismo, refrão e estribilho). Esses recursos, típicos dos textos orais, facilitam a memorização e execução das cantigas.
Cantiga de escárnio: são composições em que se critica alguém através da zombaria do sarcasmo. Trazem sátiras indiretas por encobrir a agressividade através do equívoco e da ambiguidade.
Cantigas de maldizer: apresentam sátira direta, contundente e clara. Muitas vezes, há trechos de baixo calão e a pessoa alvo da cantiga é citada nominalmente.

Dicas para o vestibular 
O trovadorismo reflete o ambiente religioso e as relações de poder típicos da Idade Média – caracterizados, principalmente, pela visão teocêntrica de mundo e a servilidade do homem perante a Igreja.
  1.  (Mackenzie - SP) Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é incorreto afirmar que:
    a) refletiu o pensamento da época, marcada pelo teocentrismo, o feudalismo e valores altamente moralistas.
     
    b) representou um claro apelo popular à arte, que passou a ser representada por setores mais baixos da sociedade.
     
    c) pode ser dividida em lírica e satírica.
     
    d) em boa parte de sua realização, teve influência provençal.
     
    e) as cantigas de amigo, apesar de escritas por trovadores, expressam o eu-lírico feminino.
Gabarito -1. Resposta correta: B

2. (UEL - PR) Sobre a cultura medieval ocidental, considere as seguintes afirmativas:
I - A maioria dos "não-romanos" desconhecia a escrita e utilizava-se da oralidade para orientar a vida social.
II - No campo da Filosofia, verificou-se a influência do pensamento escolástico, que retomou o debate entre fé e razão.
III - A arquitetura medieval caracterizou-se pela presença de grandes construções inspiradas em motivos religiosos, como mosteiros e igrejas.
IV - O heroísmo da cavalaria e o amor, temas característicos da poesia trovadoresca, tornaram-se comuns na literatura medieval.

Assinale a alternativa correta.
a) Apenas as afirmativas III e IV são verdadeiras.
 
b) Apenas as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
 
c) Apenas as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
 
d) Apenas as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
 
e) Todas as afirmativas são verdadeiras.
Gabarito 2. Resposta correta: E


Humanismo (Portugal)

2ª Época Medieval
Humanismo é o nome da produção literária do período situado entre o final da Idade Média e o início da Idade Moderna. Ou seja, entre o século 15 e o início do 16.
Além da produção historiográfica de Fernão Lopes (aproximadamente 1380-1460), esse período compreende a Poesia Palaciana e a produção teatral de Gil Vicente (aproximadamente 1465-1536).
Crônica histórica
Fernão Lopes, considerado o introdutor da historiografia em Portugal, é o principal representante do gênero. Sua obra contém ironia e crítica à sociedade portuguesa.
Mesmo centralizando sua crônica nas ações da família real, Fernão Lopes também investigou as relações entre outras classes sociais e captou o sentimento coletivo da nação. Seu maior mérito foi conciliar pesquisa histórica e qualidade literária.
Poesia palaciana
Essa poesia trata de assuntos da vida palaciana e reproduz a visão de mundo dos nobres e fidalgos que a produziam. O amor é tratado de forma mais sensual e a mulher já não é tão idealizada quanto no
 
trovadorismo.

Teatro popular
 
Pai do teatro português, Gil Vicente também foi músico, ator e encenador. Sua obra trata de muitos temas, sempre com uma abordagem caracterizada pela transição entre a Idade Média e o Renascimento. Ou seja: do pensamento teocêntrico (marcado por elementos de religião, como céu e inferno) ao humanista (marcado pelo antropocentrismo e racionalismo).

Dois dos principais vestibulares do país (Fuvest e Unicamp) listaram como obra obrigatória o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente. Por isso, outros exames podem elaborar questões sobre o teatro popular medieval.

Auto da Barca do Inferno - Conheça os personagens da peça de Gil Vicente
ANJO – arrais, ou seja, navegante da barca celeste.

DIABO E SEU COMPANHEIRO – conduzem a barca infernal.
 
FIDALGO – representa todos os nobres ociosos de Portugal.
 
ONZENEIRO – simboliza o pecado da usura e a classe dos agiotas.
PARVO – representa o povo português, rude e ignorante, porém bom de coração e temente a Deus.
  FRADE – representa os maus sacerdotes.
 
BRÍSIDA VAZ – alcoviteira (cafetina), simboliza a degradação moral e a feitiçaria popular.
 
JUDEU – representa os infiéis, que são alheios à fé cristã.
 
CORREGEDOR E PROCURADOR – encarnam a burocracia jurídica da época.
 
ENFORCADO – é o símbolo da falta de fé e da perdição.
 
QUATRO CAVALEIROS – representam as cruzadas contra os mouros e a força da fé católica.


RESUMO
Auto da Barca do Inferno é um auto onde o barqueiro do inferno e o do céu esperam à margem os condenados e os agraciados. Os que morrem chegam e são acusados pelo Diabo e pelo Anjo, mas apenas o Anjo absolve.
O primeiro a chegar é um Fidalgo, é seguido por um agiota, por um Parvo (bobo), por um sapateiro, por um frade, por uma cafetina, e um judeu, um juiz também vai, por um promotor, por um enforcado e por quatro cavaleiros. Um a um eles aproximam-se do Diabo, carregando o que na vida lhes pesou. Perguntam para onde vai a barca; ao saber que vai para o inferno ficam horrorizados e se dizem merecedores do Céu. Aproximam-se então do Anjo que os condena ao inferno por seus pecados.
O Fidalgo, o Onzeneiro (agiota), o Sapateiro, o Frade (e sua amante), a Alcoviteira Brísida Vaz (cafetina e bruxa), o judeu, o Corregedor (juiz), o Procurador (promotor) e o enforcado são todos condenados ao inferno por seus pecados, que achavam pouco ou compensados por visitas a Igreja e esmolas. Apenas o Parvo é absolvido pelo Anjo. Os cavaleiros sequer são acusados, pois deram a vida pela Igreja.
O texto do Auto é escrito em versos rimados, fundindo poesia e teatro, fazendo com que o texto, cheio de ironia, trocadilhos, metáforas e ritmo, flua naturalmente. Faz parte da trilogia dos Autos da Barca (do Inferno, do Purgatório, do Céu).
Cada um dos personagens focalizados adentram a morte com seus instrumentos terrenos, são venais, inconscientes e por causa de seus pecados não atingem a Glória, a salvação eterna. Destaque deve ser feito à figura do Diabo, personagem vigorosa que conhece a arte de persuadir, é ágil no ataque, zomba, retruca, argumenta e penetra nas consciências humanas. Ao Diabo cabe denunciar os vícios e as fraquezas, sendo o personagem mais importante na crítica que Gil Vicente tece de sua época.


TRECHO DA OBRA

Tanto que Brízida Vaz se embarcou, veo um Judeu, com um bode às costas; e, chegando ao batel dos danados, diz:
JUDEU Que vai cá? Hou marinheiro!
DIABO Oh! que má-hora vieste!...
JUDEU Cuj'é esta barca que preste?
DIABO Esta barca é do barqueiro.
JUDEU. Passai-me por meu dinheiro.
DIABO E o bode há cá de vir?
JUDEU Pois também o bode há-de vir.
DIABO Que escusado passageiro!
JUDEU Sem bode, como irei lá?
DIABO Nem eu nom passo cabrões.
JUDEU Eis aqui quatro tostões
e mais se vos pagará.
Por vida do Semifará
que me passeis o cabrão!
Querês mais outro tostão?
DIABO Nem tu nom hás-de vir cá.
JUDEU Porque nom irá o judeu
onde vai Brísida Vaz?
Ao senhor meirinho apraz?
Senhor meirinho, irei eu?
DIABO E o fidalgo, quem lhe deu...
JUDEU O mando, dizês, do batel?
Corregedor, coronel,
castigai este sandeu!
Azará, pedra miúda,
lodo, chanto, fogo, lenha,
caganeira que te venha!
Má corrença que te acuda!
Par el Deu, que te sacuda
coa beca nos focinhos!
Fazes burla dos meirinhos?
Dize, filho da cornuda!
PARVO Furtaste a chiba cabrão?

Parecês-me vós a mim
gafanhoto d'Almeirim
chacinado em um seirão.
DIABO Judeu, lá te passarão,
porque vão mais despejados.
PARVO E ele mijou nos finados
n'ergueja de São Gião!
E comia a carne da panela
no dia de Nosso Senhor!
E aperta o salvador,
e mija na caravela!
DIABO Sus, sus! Demos à vela!
Vós, Judeu, irês à toa,
que sois mui ruim pessoa.
Levai o cabrão na trela! “


Classicismo (Portugal)
Classicismo: é a face literária do Renascimento, movimento de renovação científica, artística e cultural que marca o fim da Idade
Média e o nascimento da Idade Moderna na Europa. O Renascimento é fruto do crescimento gradativo da burguesia comercial e das atividades econômicas entre as cidades europeias. 

 
Portugal 
O Classicismo português começa em 1527, quando o poeta Francisco Sá de Miranda retorna da Itália a Portugal com ideias de renovação literária (caso do soneto, nova forma de composição poética).
Camões
Mais importante autor do período em Portugal, 
Luís de Camões apresenta uma biografia incerta e cheia de aventura. Uma das poucas certezas sobre sua vida é que foi soldado e perdeu o olho direito combatendo na África. Sua produção poética foi rica e variada, abrangendo poesia lírica e épica.


Poesia épica 
Em 1572, Camões publica Os Lusíadas, poema que celebrava feitos marítimos e guerreiros recentes de Portugal. O livro também narra a história do país (de sua fundação mítica até o período histórico).
O herói do poema é o próprio povo português e o enredo gira em torno da viagem de Vasco da Gama na busca de um novo caminho para as Índias. Escrito em dez cantos, Os Lusíadas tem 1.102 estrofes (compostas em oitava-rima e versos decassílabos) e cinco partes. 

 

TRECHO DE “OS LUSÍADAS” -Luís Vaz de Camões

“ As armas e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana
E em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas  
Daqueles Reis que foram dilatando  
A Fé, o Império, e as terras viciosas  
De África e de Ásia andaram devastando,  
E aqueles que por obras valerosas  
Se vão da lei da Morte libertando:  
Cantando espalharei por toda parte,  
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.  

Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
  E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente
Se sempre, em verso humilde, celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene.
Dai-me húa fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no Universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.”

“ As/ ar/mas /e os /ba/rões/ a/ssi/na/la/dos
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Que/, da O/ci/den/tal /prai/a / Lu/si/ta/na,
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Por/ ma/res /nun/ca /de an/tes/ na/ve/ga/dos
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Passaram ainda além da Taprobana
E em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

O esquema rimático de cada estrofe é a;b;a;b;a;b;c;c. Os primeiros seis versos são cruzados e os dois últimos emparelhados.


Poesia lírica

Camões escreveu sua poesia lírica com versos na medida velha (versos redondilhos) e na medida nova (versos decassílabos). É no soneto, contudo, que a lírica camoniana alcança seu ponto mais alto: quer pela estrutura tipicamente silogística, quer pela constante dualidade entre o amor material e o amor idealizado (platônico).
O Renascimento envolveu um movimento intelectual que incentivou a recuperação de valores e modelos da antiguidade
clássica greco-romana. Isso desencadeou importantes transformações políticas e econômicas na sociedade.

Versos com dez sílabas poéticas são chamados decassílabos. Outra forma famosa de escrever são os versos alexandrinos ou de
dodecassílabos (doze sílabas), conforme exemplo:

"Sinto que há na minha alma um vácuo imenso e fundo..." (Machado de Assis)
Sin/ to/ quehá /na/ mi/ nhaal/ maum /vá/ cuoi
1 2 3 4 5 6 7 8 9
men/ soe / fun/ do
10 11 12

Amor é fogo que arde sem se ver -por Luís Vaz de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

(constitui-se de dois quartetos e dois tercetos e tem variações nas rimas)


(FGV-SP) Assinale a alternativa que completa corretamente a afirmação seguinte:
O movimento desenvolveu-se no apogeu político de Portugal; consiste numa concepção artística baseada na imitação dos modelos clássicos gregos e latinos. Nele, o pensamento lógico predomina sobre a emoção, e a estrutura da composição poética obedece a formas fixas, com a introdução da medida nova, que convive com a medida velha das formas tradicionais.

Trata-se do:
a) Modernismo.

b) Barroco.
c) Romantismo.
 
d) Classicismo.

e) Realismo.

Gabarito :
Resposta correta: D
Comentário: Classicismo é a designação dada à tendência estética, literária, artística e filosófica que reproduzia os ideais da antiguidade clássica.


LITERATURA – BRASIL

Quinhentismo
As primeiras manifestações literárias brasileiras não constituem uma escola literária, são registros de viajantes e de jesuítas. O primeiro documento escrito da história do Brasil é a carta enviada pelo escrivão da expedição de Pedro Álvares Cabral, Pero Vaz Caminha (1450-1500), ao rei de Portugal com informações sobre a fauna, a flora e a gente da nova terra.
Literatura jesuítica: também chamada de literatura de catequese, teve como objetivo a conversão dos índios à fé cristã. Constitui-se de textos escritos por missionários jesuítas e tem como expoente máximo Padre José de Anchieta (1534 -1597) - que produziu, além de peças de teatro e poemas, uma gramática da língua tupi.
Literatura informativa: descreve e cataloga a nova terra e o povo que nela habitava. Surgiu com a necessidade de colonizar o território e teve como objetivo apresentar aos cidadãos da metrópole os benefícios que desfrutariam caso resolvessem se mudar para a América.

A visão que o europeu tem dos índios baseia-se numa concepção de mundo eurocêntrica e eivada de preconceitos. O único ponto positivo desta visão é a descrição do “novo mundo” como uma terra paradisíaca e incomparavelmente bela. Em uma época como a nossa, em que a alteridade e a diversidade são paradigmas essenciais para a formação do cidadão, a visão quinhentista dos nativos brasileiros é de extrema importância para o vestibular.

1. As primeiras manifestações literárias registradas na Literatura Brasileira referem-se à:
a. Poesia épica e prosa de ficção.
b. Obras de estilo clássico, renascentista.
c. Literatura informativa sobre o Brasil e literatura didática, catequética.
d. Poemas românticos indianistas.
e.  Romances e contos dos primeiros colonizadores.

2. Assinale a incorreta:

  a.A literatura dos viajantes constitui um valioso documento do Brasil Colônia.

  b.Na literatura de viagens, é possível encontrar informações sobre a natureza e o homem brasileiro.
c.O mito ufanista é representado pelo louvor à terra fértil e mostra a natureza como algo exuberante.
  
d.Os primeiros escritos sobre o Brasil pertencem à categoria de literatura, uma vez que notamos neles preocupações estéticas.
e.Nenhuma das anteriores.
Gabarito: 1. c / 2. E


BARROCO - PORTUGAL
O Barroco português desenvolveu-se entre 1580 e 1756, época em que Portugal estava em profunda crise econômica e social devido ao domínio da monarquia espanhola.

 
Padre Antônio Vieira 
O melhor da produção barroca portuguesa encontra-se na obra do padre Antônio Vieira - político e pregador de inteligência e sensibilidade acuradas, que sintetizou como poucos os conflitos do homem barroco.
Chamado por Fernando Pessoa de "Imperador da Língua Portuguesa", Vieira explora em seus sermões o melhor da retórica de sua época. Orador hábil e virtuoso, é também claro, engenhoso, imaginativo e convincente.
Os sermões constituem o principal da obra de Vieira. Eles trazem a essência do estilo barroco: a tentativa de promover uma síntese entre matéria e espírito. Nos sermões, Vieira busca cativar o ouvinte despertando sua consciência e convidando-o a pensar e agir.

Os contrastes típicos do período Barroco revelam a tentativa de fundir a perspectiva antropocêntrica (herdada do Renascimento) ao teocentrismo medieval (recuperado pela Contra-Reforma).


Leia o seguinte fragmento, extraído do "Sermão de Santo Antônio", de Pe. Vieira.

"(...) o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuamente se come: isto é o que padecem os pequenos. São o pão cotidiano dos grandes; e assim como o pão se come com tudo, assim com tudo e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo, nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem (...)"

 

No trecho, observa-se que Vieira
I. constrói a argumentação por meio da analogia, o que constitui um traço característico da prosa vieiriana.
II. finaliza com uma gradação crescente a fim de dar ênfase à voracidade da exploração sofrida pelos pequenos.
 
III. afirma, ao estabelecer uma comparação entre os humildes e o pão, alimento de consumo diário, que a exploração dos pequenos é aceitável porque cotidiana.

  • Está (ão) correta (s)
     
    a) apenas I.
  •  b) apenas I e II.
     
    c) apenas III.
     
    d) apenas II e III.
     
    e) I, II e III.

  1. (Fed. Lavras - MG) Todas as alternativas são corretas sobre o Padre José de Anchieta, exceto:
    a) Foi o mais importante jesuíta em atividade no Brasil do século XVI.
    b) Foi o grande orador sacro da língua portuguesa, com seus sermões barrocos.
    c) Estudou o tupi-guarani, escrevendo uma cartilha sobre a gramática da língua dos nativos.
    d) Escreveu tanto uma literatura de caráter informativo como de caráter pedagógico.
    e) Suas peças apresentam sempre o duelo entre anjos e diabos.

GABARITO
1. Resposta correta: B
Comentário: O grande orador sacro da língua de nossa língua, chamado por Fernando Pessoa “Imperador da Língua Portuguesa”, é o Padre António Vieira, autor pertencente ao período Barroco.


BARROCO - BRASIL
No Brasil, o movimento tem como marco inicial a publicação do poema épico Prosopopéia, publicado em 1601 por Bento Teixeira - poeta português radicado em Pernambuco. Forte jogo de oposições e conflitos de natureza espiritual caracterizam o Barroco.
Gregório de Matos Guerra (1636-1695) é o principal autor do Barroco brasileiro. Considerado o primeiro grande lírico nacional, sua poesia é dividida em lírica, sacra e satírica.

Na lírica, Gregório apresenta a figura feminina numa oscilação entre o angelical e a tentação carnal. Na satírica, elege como alvo os políticos, os religiosos e as mulheres - por isso recebeu a alcunha de "Boca do Inferno". Na sacra, o poeta tenta redimir-se de todos seus pecados e retrata a fragilidade humana diante da morte e da condenação eterna.

  1. Barroco produziu uma literatura que expressa o conflito do homem em face da vida. Em que verso de Gregório de Matos se verificam alguns traços desse conflito, a ponto de ele tentar a fusão de opostos?
a."Não vira em minha vida a formosura..."
b. "Quem vira uma tal flor que não a cortara"
c. "E na alegria, sinta-se tristeza"
d. "Ouvia falar nela cada dia"
e. "Olhos meus, disse então, por defender-me”
Resposta : c

2. Assinale a alternativa que indica corretamente a sucessão histórica dos estilos de época na literatura brasileira:
a.Arcadismo, Romantismo, Realismo, Barroco.
b. Barroco, Arcadismo, Romantismo, Realismo.
c. Romantismo, Realismo, Barroco, Arcadismo.
d. Realismo, Barroco, Arcadismo, Romantismo.
e. Barroco, Arcadismo, Realismo, Romantismo.
Resposta: b

3. (FUVEST) Qual a alternativa correta?
a. A poesia de Gregório de Matos é rica em antítese, contradições e jogos conceituais ao gosto barroco.
b. Em sua poesia, Gregório de Matos ridicularizou os ricos e poderosos, mas defendeu os pobres e oprimidos.
c. Na poesia de Gregório de Matos se reflete plenamente o estilo barroco, através da contenção vocabular e da simplicidade formal.
d. Na poesia religiosa de Gregório de Matos estão ausentes o sentimento de oposição entre o divino e o humano e a ideia de pecado.
e.  Gregório de Matos foi a figura máxima do Barroco brasileiro, mas nada trouxe de originalidade vocabular na sua poesia, sendo apenas fruto da influência portuguesa.
Resposta: a

4. (FUVEST) Com referência ao Barroco, todas as alternativas são corretas, exceto:
a. O Barroco estabelece contradições entre espírito-carne, alma-corpo, morte-vida.
b. Arte vinculada à Contra-Reforma.
c. O Barroco caracteriza-se pela sintaxe obscura, uso de hipérbole e de metáforas.
d.  Apresenta como característica marcante o espírito de tensão, conflito entre tendências opostas: de um lado, o teocentrismo medieval e, de outro, o antropocentrismo renascentista.
e.  O homem centra suas preocupações em seu próprio ser, tendo em mira seu aprimoramento, com base na cultura greco-latina.
Resposta: e


ARCADISMO (PORTUGAL)
Surgido na segunda metade do século 18, o Arcadismo (ou Neoclassicismo) caracteriza-se pelo o espírito reformista e pela valorização antropocêntrica do saber racional - reflexo do desenvolvimento tecnológico, social e científico do chamado "Século das Luzes“.
Em Portugal, o Arcadismo inicia-se oficialmente em 1.756, data de fundação da Arcádia Lusitana (sociedade poética em que artistas discutiam Arte e Literatura).

BOCAGE
 
A poesia de Bocage é marcada pelo erotismo e pela sátira de caráter social. Também se destacam em sua obra duas vertentes líricas: a luminosa e etérea (em que o poeta se entrega inebriado à evocação da beleza das suas amadas) e a noturna e pessimista (que manifesta a dor incomensurável provocada pela indiferença, ingratidão e tirania de suas musas). Essas assimetrias refletem uma personalidade complexa e multifacetada do autor, além do evidente jogo de contrários.

A dualidade entre sentimento e razão é uma constante na obra de Bocage. O contraste entre a exuberância do amor e a contenção e frieza racional do iluminismo é um excelente tema a ser explorado nos vestibulares.



(Unifesp-SP) Leia os versos do poeta português Bocage.

Vem, oh Marília, vem lograr comigo
Destes alegres campos a beleza,
Destas copadas árvores o abrigo.
Deixa louvar da corte a vã grandeza;
Quanto me agrada mais estar contigo,
Notando as perfeições da Natureza!

Nestes versos,
a) o poeta encara o amor de forma negativa por causa da fugacidade do tempo.
b) a linguagem, altamente subjetiva, denuncia características pré-românticas do autor.
 
c) a emoção predomina sobre a razão, numa ânsia de se aproveitar o tempo presente.
 
d) o amor e a mulher são idealizados pelo poeta, portanto, inacessíveis a ele.
 
e) o poeta propõe, em linguagem clara, que se aproveite o presente de forma simples junto à natureza.

Gabarito
Resposta correta: E
Comentário: Com clareza e objetividade o poeta lança mão dos principais ingredientes da convenção árcade: o ambiente campesino, o locus amoenus e a paisagem rústica despojada de atrativos materiais.

ARCADISMO – NO BRASIL

O Arcadismo chega numa época em que os ecos de liberdade vindos da Europa e dos Estados Unidos provocam um verdadeiro frenesi entre os intelectuais. A independência das treze colônias norte-americanas desencadeia a Inconfidência Mineira, em 1789, e é no interior dela que nasce o arcadismo brasileiro. Muitos de nossos poetas árcades foram também inconfidentes.

A grande produção poética do Arcadismo brasileiro apresenta ampla variedade de poemas líricos, épicos e satíricos. A seguir, alguns dos principais representantes dessas tendências:

* Tomás Antônio Gonzaga (Dirceu): o principal de sua obra está em Cartas Chilenas (poema satírico em que denuncia os desmandos morais e administrativos do governador de Minas Gerais da época) e em Liras a Marília de Dirceu (em que relata seu amor por Marília, pseudônimo da jovem Maria Dorotéia Joaquina de Seixas).

* Cláudio Manuel da Costa (Glauceste Satúrnio): publicado em 1768, seu livro Obras (composto de cem sonetos, várias éclogas, epístolas e outras formas líricas) é considerado o marco inicial do Arcadismo no Brasil. O poema épico Vila Rica também se destaca por descrever a descoberta do ouro em Minas Gerais e a formação de Vila Rica - atual Ouro Preto.

* José Basílio da Gama (Termindo Sípílio): seu poema épico O Uraguai celebra a vitória do comissário real Gomes Freire de Andrade sobre os índios de Sete Povos das Missões - região atualmente pertencente ao Rio Grande do Sul.
Frei José de Santa Rita Durão: discute o mito do amor universal no épico Caramuru. A obra conta a história de amor entre o português Diogo Álvares Correa, o Caramuru, e a índia Paraguaçu.

O Arcadismo brasileiro rompe com a tradição bucólica europeia, colocando na ordem do dia a cor local e o sentimento nativista. Além disso, a proximidade dos poetas árcades com a Inconfidência Mineira os insere em um contexto histórico que não pode ser desprezado por quem pretende compreender o Brasil do século 18.

Uma tendência dos vestibulares é cobrar características próprias do arcadismo brasileiro - como a paisagem e realidade concretas aliadas à natureza humanizada, em que a paisagem ganha vida.

1. (UFRS – RS) Assinale a alternativa correta em relação a Marília de Dirceu, de Tomás Antonio Gonzaga.

a) No livro, é estabelecido um contraste entre a paisagem, bucólica e amena, e o cenário da masmorra, opressivo e triste.
 
b) Trata-se de um conjunto de cartas de amor, enviadas por Marília, de Minas Gerais, a Dirceu, que se encontra em Moçambique.
 
c) Na obra, o pensamento racional é anulado em favor do sentimentalismo romântico.
 
d) Nas liras de Gonzaga, Marília é uma mulher irreal, incorpórea, imaginada pelo pastor Dirceu.
 
e) Trata-se de um livro satírico, carregado de termos pejorativos em relação às convenções da época.
  • GABARITO
    1. Resposta correta: A
    Comentário: O poeta dedica a primeira parte de Marília de Dirceu à descrição de sua musa pastora idealizada e a segunda parte, ao relato de seus infortúnios no cárcere.